Por Leo Felipe (publicado originalmente em fogueteformidável.blogspot.com)
Sujeito exemplar pra esse tipinho de gente que leva a vida inventando festas, criando bares, produzindo bandas de rock, se virando no tal do jornalismo cultural. Partiu pra Grande Rave lá de cima no último dia 10, vitimado por um ataque cardíaco. Tinha 57 anos.
O nome Tony Wilson aparece pela primeira vez no livro de história da cultura pop em fins dos anos 70 quando fundou a Factory Records, gravadora que lançou Joy Division e, em seguida, New Order. Ele foi o motor por trás da cena que agitou Manchester a partir dos anos 80 e transformou a cidade num centro produção de música tão importante quanto, digamos, Seattle na década seguinta. Lá, produziu e lançou os Happy Mondays e fundou o Haçienda, QG dessa cena louca (Madchester foi como a cidade passou a ser chamada).
Nos anos 60, Manchester deu ao mundo os Hollies, os Bee Gees, o bluseiro John Mayall e os açucarados Herman's Hermits. No apogeu do punk vieram os Buzzcocks, o Joy Division e logo com a virada pra década 80 The Fall, New Order, The Smiths. Depois, Stone Roses e Happy Mondays estabeleceram de vez a cidade ao norte da Inglaterra como pólo da música pop mundial. O que aconteceu em Manchester lá por 1989 foi semelhante ao Verão do Amor, em São Francisco em 1967. O Veranico do Amor. Madchester foi uma revisão do movimento hippie, com suas roupas coloridas e drogas estimulantes.
E Tony Wilson estava lá, articulando, criando, produzindo. A vida do homem é coisa de filme. Tanto que se transformou no 24 Hour Party People, de Michael Winterbotton, um falso documentário em que Tony Wilson aparece em todas suas facetas: apresentando o seu programa televisivo, o So It Goes; em busca da batida perfeita com o Joy Division; coordenando a loucura dos Happy Mondays. Uma cena é emblemática: em pleno Haçienda lotado, o ator Steve Coogan, no papel de Wilson, comenta da importância dos DJs na nova estrutura da música contemporânea. É isso: Tony Wilson foi um dos articuladores da fusão da música eletrônica com o rock. Pense na batida orgânica e ao mesmo tempo sintética do Joy Division. Em TODO o New Order. No balanço pré-New Rave dos Happy Mondays. Não existiria James Murphy e LCD Soundsystem não fosse Tony Wilson, resumindo.
Mister Wilson foi diagnosticado com câncer e chegou a extrair um dos rins, em 2006. Seu tratamento custava 3500 libras mensais. Ele lutava na justiça para que o medicamento (chamado Sutent) fosse disponibilizado gratuitamente através do serviço de saúde pública. Julgava um escândalo o fato de o governo financiar cirurgias cosméticas e não pagar o remédio que salvaria sua vida. Sempre foi um notório duro, a vida toda administrando os altos custos dos seus sonhos. Costumava dizer que alguns homens fazem dinheiro enquanto outros fazem história.
Abaixo, um trecho da estréia do programa So It Goes , em 28 de agosto de 1976, com os Sex Pistols.
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